segunda-feira, 23 de julho de 2012

Stakeholders do ecossistema empresarial


Stakeholders do ecossistema empresarial

Segundo  o glossário de logística da GS1 Brasil, stakeholders  “significa depositários. Pessoa ou grupo com interesse na performance de organização e no meio ambiente na qual opera.” Ou seja, aqueles que têm interesse  no mercado.

Vamos exemplificar graficamente os stakeholders de uma empresa qualquer e posteriormente detalhar um pouco cada um deles e seu impacto no ecossistema empresarial.


Uma das causas mais comuns de problemas entre as partes do ecossistema empresarial é a noção de que uma das partes pode ganhar e a outra não.

Particularmente não acredito no ganha/perde, pois se eu ganho e você perde em algum momento você vai querer me dar o troco e, mesmo sem querer, começaremos uma disputa sem fim. Acredito sim, no ganha/ganha, onde eu ganho e você ganha também.  Se saímos satisfeitos, continuaremos a nos relacionar de forma construtiva e evolutiva.

Vejamos cada um dos atores se relacionando sob esta ótica:

Acionista: É o ator que criou uma empresa e espera obter lucro sobre seus investimentos. Até aí tudo bem. O que não é desejável é o acionista rico da empresa pobre. Infelizmente, essa situação ainda é muito comum, contudo, extremamente nociva. O foco exclusivamente nos resultados vai afetar diretamente um ou mais atores deste ecossistema. Será que a empresa pobre vai continuar a existir no longo prazo? Será que os clientes não irão procurar a concorrência? E o que falar dos colaboradores? O modelo mental que deve reger o acionista é o do ganha/ganha, ou seja, se eu ganho é justo que todos ganhem também, pois assim sobreviverei e terei vida longa.

Cliente: Este é o ator que permite que todos os demais participantes possam crescer e expandir. É aquele que entra com o dinheiro na troca de mercadorias e/ou serviços. Cliente satisfeito retorna e torna a comprar na empresa, o que alimenta as expectativas dos acionistas e dos demais stakeholders. Ele deseja ser bem atendido, adquirir produtos/serviços de qualidade a um preço justo. Ele sabe que para consumir constantemente é necessário que a empresa esteja saudável e em condições de produzir para atender os seus desejos. Se o cliente ganha e a empresa perde, em pouco tempo, ele não terá aonde consumir. Novamente o ganha/ganha se faz indispensável.

Colaborador: É o elo entre os atores do mercado. É ele quem vai fazer com que os acionistas e os clientes atendam suas expectativas. Além do mais ele é, também, cliente neste ecossistema. Para que ele possa consumir mais, é necessária uma maior remuneração.  O modelo mental  “patrão rico e empregado pobre” está com seus dias contados. É importante entender que os recursos dos colaboradores é quem vai movimentar a máquina capitalista. Lamentavelmente a remuneração dos colaboradores foi reduzida  nas últimas décadas. Para que haja consumo é necessário que o dinheiro circule na economia e isso só é possível quando o colaborador recebe uma remuneração justa. Talvez o ator governo tenha sido o grande vilão desta redução. A título de exemplo, o salário mínimo necessário[1] (maio de 2012)  deveria ser o equivalente a R$ 2.383,28 ao invés de R$ 622,00. Talvez (e provavelmente não é) não seja possível migrar de uma só vez para o mínimo necessário, contudo, é indispensável caminharmos nesta direção, sob pena de não conseguirmos alimentar o ecossistema empresarial.  Claro, Governo e  acionistas precisam fazer o dever de casa. O primeiro, reduzindo a carga tributária e o segundo repassando parte substancial destes ganhos ao trabalhador que ao melhorar sua condição de consumo vai alimentar essa cadeia de atores.

Fornecedor: Este ator vem mudando o foco de seus trabalhos, não apenas fornecendo “matérias primas” para a indústria, comércio e serviços e sim participando na agregação de valor aos clientes de seus clientes. É preciso considerá-lo como parceiro. Como parceiro é importante que ele possua condições saudáveis para continuar a nos oferecer produtos e/ou serviços de qualidade, com preço justo. Ele deve ganhar o suficiente para continuar a atender nossos desejos e nós também devemos ganhar pagando um preço justo, que nos permita continuar comprado de nosso parceiro fornecedor.

Concorrente: Será que eles só servem para atrapalhar? Claro que não. A concorrência é sempre saudável e, na maioria das vezes, reguladora de preços. Ainda me lembro do tempo que só tínhamos uma empresa de telefonia no Rio de Janeiro. Não tenho nenhuma saudade desta época. A concorrência nos força a melhorar produtos e/ou serviços. Além disso, se o mercado tiver maturidade, é possível participar com os concorrentes de um clube de compras, cooperando na hora de comprar e competindo na hora de vender. Essa coopetição  faz bem ao mercado. Creio que o monopólio deva ser abolido.

Governo: Este stakeholder é o menos querido dos demais atores. Pudera muitas vezes se torna sócio majoritário das empresas e dos contribuintes, e o que é pior, até agora, tem retornado muito pouco para esse ecossistema que o sustenta. Mais uma vez é preciso olhar o ganha/ganha, se ele quer evitar a evasão de arrecadação, certamente não será através do aumento no rigor dos controles, pois sempre vai existir uma brecha. Para aumentar a arrecadação o ator governo precisa reduzir a carga tributária e melhorar seus serviços, assim agindo o ator acionista certamente não vai buscar meios de burlar os controles governamentais. A lógica do mercado e, portanto do próprio ser humano, é de gastar apenas com aquilo que possa retornar de alguma forma para ele. Em 2012 foi preciso trabalhar até dia 29 de maio para alimentar este faminto stakeholder. Se o país quiser crescer e se colocar de forma definitiva no mercado internacional é preciso atacar o famoso Custo Brasil, adequar os  gastos públicos e reduzir as desigualdades sociais. Nunca é demais lembrar que a lógica do mercado considera, dentre outros, que  a produção, o consumo e a poupança são fundamentais para sua estabilidade.

Sociedade e comunidade: A empresa para se manter neste ecossistema precisa dar algum retorno para a sociedade e para a comunidade onde atua. Se assim não for iremos passar por graves problemas sociais que afetarão grandemente os  atores acionista e governo.  No passado a solução adotada por alguns governantes foi de levar a população menos favorecida para locais mais distantes das casas e dos empreendimentos. Tal fato gerou a necessidade de fornecer transportes para que esses colaboradores pudessem ir trabalhar. Os desníveis sociais geraram insegurança para os mais abastados que passara a viver em verdadeiras prisões domiciliares. Este fato é facilmente observável pelo uso de grades e câmaras de vigilâncias nas casas e nos prédios comerciais e residenciais. As empresas conscientes desenvolveram ações de responsabilidade social e aquelas mais antenadas perceberam que a sociedade e a comunidade estão representadas em seu próprio empreendimento na figura dos colaboradores. Fazer responsabilidade social é importante, pois todos saem ganhando, contudo ela deve começar em casa.

Meio ambiente: O meio ambiente passou a ser questão de sobrevivência. Produção mais limpa (P+L) deve ser a primeira preocupação. Produzir pensando nos resíduos do consumo deve estar atrelado a P+L. Assim, a sustentabilidade passou a ser a palavra do momento e ela deve estar vinculada a todos os stakeholders do ecossistema empresarial. Cada qual fazendo a sua parte. Se o meio ambiente perde, nenhum dos demais atores terá condições de ganhar.


Assim, se esta visão estiver correta, é preciso caminhar para o ganha/ganha de todos os atores do mercado se desejamos construir uma sociedade melhor e mais justa. Cada qual fazendo a sua parte e investindo em uma educação de qualidade todos serão ganhadores e o mercado continuará a crescer, só que de forma sustentável.


[1] Disponível em <http://www.dieese.org.br/rel/rac/salminMenu09-05.xml> Acessado em: 23 jul. 2012.  Segundo o Dieese, “Salário mínimo necessário: Salário mínimo de acordo com o preceito constitucional "salário mínimo fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender às suas necessidades vitais básicas e às de sua família, como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, reajustado periodicamente, de modo a preservar o poder aquisitivo, vedada sua vinculação para qualquer fim" (Constituição da República Federativa do Brasil, capítulo II, Dos Direitos Sociais, artigo 7º, inciso IV). Foi considerado em cada Mês o maior valor da ração essencial das localidades pesquisadas. A família considerada é de dois adultos e duas crianças, sendo que estas consomem o equivalente a um adulto. Ponderando-se o gasto familiar, chegamos ao salário mínimo necessário.

sexta-feira, 20 de julho de 2012


Reologia Corporativa

Há um tempo falamos sobre esse assunto em nosso blog.

Algumas palestras foram feitas e, via de regra, os participantes concordavam com a visão apresentada sobre o assunto.  Porque então não foram feitas as mudanças necessárias?

Para os que não leram sobre o assunto, a reologia, em seu conceito original, é o estudo da deformação dos materiais.  Adaptando o conceito, emprestado da mecânica de fluidos, ao mundo corporativo, teríamos o estudo das deformações, ou mudança nas atitudes, dos colaboradores em função do gerenciamento errado nas empresas.

Vejamos um caso que tem tirado o sono de muitos profissionais de Gestão do Capital Humano: como reter os talentosos?

As empresas, conforme pesquisa da ManpowerGroup, estão tendo uma grande dificuldade em contratar pessoas talentosas e qualificadas para ocupar diversos cargos. Bem, isso também está acontecendo no resto do mundo.

No Brasil[1], 71% dos empregadores acham que essa dificuldade em contratar pessoas não vai ter nenhum ou, se houver, o impacto será muito pequeno sobre os seus stakeholders, em especial os clientes e investidores.

Que tipo de impacto essa miopia empresarial pode causar nos colaboradores?

No curto prazo, sobrecarga de trabalho. Claro, alguém deve estar fazendo, além de seu trabalho, uma parte daquelas atividades que não estão sendo feitas pelo tal do talentoso que ainda não foi contratado. No começo tudo bem, mas se essa situação perdurar? Qual será o impacto dessa decisão empresarial na automotivação dos colaboradores? Certamente não será muito boa. Eis aí um ótimo exemplo de reologia corporativa.

O mais grave é que essa autodesmotivação servirá de “porta aberta” para uma mudança do funcionário sobrecarregado e, talvez, não reconhecido.

Claro que contratar está muito difícil, mais difícil ainda está manter as pessoas motivadas e interessadas em permanecer nas empresas. Uma recente pesquisa indicava que 94% dos colaboradores estariam dispostos a estudar uma possível mudança de empregador. Por quê? Por causa de um conjunto de ações de gerenciamento que beneficiam, normalmente, apenas os investidores e, muitas vezes, em detrimento aos colaboradores.

O mercado de trabalho, em especial do Rio de Janeiro,  está comprador de talentos e deve permanecer assim até, pelo menos, 2016. O governo vem fazendo o dever de casa na tentativa de qualificar pessoas, mas quanto tempo vai demorar  até que elas estejam prontas? O Pronatec e o Promimp são bons exemplos disso.

E até lá, como sua empresa vai suportar o assédio de seus concorrentes?

O que você está fazendo para segurar os seus talentos?

Você está atento à reologia corporativa? Os rumos estão sendo corrigidos?

Quando os ventos sopram forte no mundo corporativo, o respeito, a transparência, o pensar e agir em rede, a valorização e a preocupação com o desenvolvimento dos colaboradores costumam surtir efeito e tornar o ambiente de trabalho único  e, portanto, vai fazer com que ele pense duas vezes antes de mudar de trabalho.

Claro, enquanto não corrigirmos a razão dos problemas, iremos passar boa parte de nosso tempo apagando o incêndio provocado pelos gestores incompetentes.

Procure identificar as ações que possam causar deformação nas atitudes de seus colaboradores e procure eliminá-las. Assim agindo, a Reologia corporativa, ou seja, as deformações na motivação e no engajamento de seus parceiros internos, vai deixar de ser um fantasma em sua empresa.