Stakeholders do ecossistema empresarial
Segundo o glossário
de logística da GS1 Brasil, stakeholders “significa
depositários. Pessoa ou grupo com interesse na performance de organização e no
meio ambiente na qual opera.” Ou seja, aqueles que têm interesse no mercado.
Vamos
exemplificar graficamente os stakeholders de uma empresa qualquer e posteriormente
detalhar um pouco cada um deles e seu impacto no ecossistema empresarial.
Uma das causas mais comuns de problemas entre as partes do
ecossistema empresarial é a noção de que uma das partes pode ganhar e a outra
não.
Particularmente não acredito no ganha/perde, pois se eu ganho e
você perde em algum momento você vai querer me dar o troco e, mesmo sem querer,
começaremos uma disputa sem fim. Acredito sim, no ganha/ganha, onde eu ganho e
você ganha também. Se saímos
satisfeitos, continuaremos a nos relacionar de forma construtiva e evolutiva.
Vejamos cada um dos atores se relacionando sob esta ótica:
Acionista: É o ator
que criou uma empresa e espera obter lucro sobre seus investimentos. Até aí tudo
bem. O que não é desejável é o acionista rico da empresa pobre. Infelizmente, essa
situação ainda é muito comum, contudo, extremamente nociva. O foco
exclusivamente nos resultados vai afetar diretamente um ou mais atores deste
ecossistema. Será que a empresa pobre vai continuar a existir no longo prazo?
Será que os clientes não irão procurar a concorrência? E o que falar dos
colaboradores? O modelo mental que deve reger o acionista é o do ganha/ganha,
ou seja, se eu ganho é justo que todos ganhem também, pois assim sobreviverei e
terei vida longa.
Cliente: Este é o
ator que permite que todos os demais participantes possam crescer e expandir. É
aquele que entra com o dinheiro na troca de mercadorias e/ou serviços. Cliente
satisfeito retorna e torna a comprar na empresa, o que alimenta as expectativas
dos acionistas e dos demais stakeholders. Ele deseja ser bem atendido, adquirir
produtos/serviços de qualidade a um preço justo. Ele sabe que para consumir constantemente
é necessário que a empresa esteja saudável e em condições de produzir para
atender os seus desejos. Se o cliente ganha e a empresa perde, em pouco tempo,
ele não terá aonde consumir. Novamente o ganha/ganha se faz indispensável.
Colaborador: É o elo
entre os atores do mercado. É ele quem vai fazer com que os acionistas e os clientes
atendam suas expectativas. Além do mais ele é, também, cliente neste
ecossistema. Para que ele possa consumir mais, é necessária uma maior
remuneração. O modelo mental “patrão rico e empregado pobre” está com seus
dias contados. É importante entender que os recursos dos colaboradores é quem
vai movimentar a máquina capitalista. Lamentavelmente a remuneração dos
colaboradores foi reduzida nas últimas
décadas. Para que haja consumo é necessário que o dinheiro circule na economia
e isso só é possível quando o colaborador recebe uma remuneração justa. Talvez
o ator governo tenha sido o grande vilão desta redução. A título de exemplo, o
salário mínimo necessário[1]
(maio de 2012) deveria ser o equivalente
a R$ 2.383,28 ao invés de R$
622,00. Talvez (e provavelmente não é) não seja possível migrar de uma só vez
para o mínimo necessário, contudo, é indispensável caminharmos nesta direção,
sob pena de não conseguirmos alimentar o ecossistema empresarial. Claro, Governo e acionistas precisam fazer o dever de casa. O
primeiro, reduzindo a carga tributária e o segundo repassando parte substancial
destes ganhos ao trabalhador que ao melhorar sua condição de consumo vai
alimentar essa cadeia de atores.
Fornecedor: Este ator vem
mudando o foco de seus trabalhos, não apenas fornecendo “matérias primas” para
a indústria, comércio e serviços e sim participando na agregação de valor aos
clientes de seus clientes. É preciso considerá-lo como parceiro. Como parceiro
é importante que ele possua condições saudáveis para continuar a nos oferecer
produtos e/ou serviços de qualidade, com preço justo. Ele deve ganhar o
suficiente para continuar a atender nossos desejos e nós também devemos ganhar
pagando um preço justo, que nos permita continuar comprado de nosso parceiro
fornecedor.
Concorrente: Será que eles
só servem para atrapalhar? Claro que não. A concorrência é sempre saudável e,
na maioria das vezes, reguladora de preços. Ainda me lembro do tempo que só tínhamos
uma empresa de telefonia no Rio de Janeiro. Não tenho nenhuma saudade desta
época. A concorrência nos força a melhorar produtos e/ou serviços. Além disso,
se o mercado tiver maturidade, é possível participar com os concorrentes de um
clube de compras, cooperando na hora de comprar e competindo na hora de vender.
Essa coopetição faz bem ao mercado. Creio que o monopólio deva
ser abolido.
Governo: Este
stakeholder é o menos querido dos demais atores. Pudera muitas vezes se torna
sócio majoritário das empresas e dos contribuintes, e o que é pior, até agora,
tem retornado muito pouco para esse ecossistema que o sustenta. Mais uma vez é
preciso olhar o ganha/ganha, se ele quer evitar a evasão de arrecadação,
certamente não será através do aumento no rigor dos controles, pois sempre vai
existir uma brecha. Para aumentar a arrecadação o ator governo precisa reduzir
a carga tributária e melhorar seus serviços, assim agindo o ator acionista
certamente não vai buscar meios de burlar os controles governamentais. A lógica
do mercado e, portanto do próprio ser humano, é de gastar apenas com aquilo que
possa retornar de alguma forma para ele. Em 2012 foi preciso trabalhar até dia
29 de maio para alimentar este faminto stakeholder. Se o país quiser crescer e
se colocar de forma definitiva no mercado internacional é preciso atacar o
famoso Custo Brasil, adequar os gastos
públicos e reduzir as desigualdades sociais. Nunca é demais lembrar que a
lógica do mercado considera, dentre outros, que a produção, o consumo e a poupança são fundamentais
para sua estabilidade.
Sociedade e comunidade: A
empresa para se manter neste ecossistema precisa dar algum retorno para a
sociedade e para a comunidade onde atua. Se assim não for iremos passar por
graves problemas sociais que afetarão grandemente os atores acionista e governo. No passado a solução adotada por alguns
governantes foi de levar a população menos favorecida para locais mais
distantes das casas e dos empreendimentos. Tal fato gerou a necessidade de
fornecer transportes para que esses colaboradores pudessem ir trabalhar. Os
desníveis sociais geraram insegurança para os mais abastados que passara a
viver em verdadeiras prisões domiciliares. Este fato é facilmente observável
pelo uso de grades e câmaras de vigilâncias nas casas e nos prédios comerciais
e residenciais. As empresas conscientes desenvolveram ações de responsabilidade
social e aquelas mais antenadas perceberam que a sociedade e a comunidade estão
representadas em seu próprio empreendimento na figura dos colaboradores. Fazer
responsabilidade social é importante, pois todos saem ganhando, contudo ela
deve começar em casa.
Meio ambiente: O meio
ambiente passou a ser questão de sobrevivência. Produção mais limpa (P+L) deve
ser a primeira preocupação. Produzir pensando nos resíduos do consumo deve
estar atrelado a P+L. Assim, a sustentabilidade passou a ser a palavra do
momento e ela deve estar vinculada a todos os stakeholders do ecossistema
empresarial. Cada qual fazendo a sua parte. Se o meio ambiente perde, nenhum dos
demais atores terá condições de ganhar.
Assim, se esta visão estiver correta,
é preciso caminhar para o ganha/ganha de todos os atores do mercado se desejamos
construir uma sociedade melhor e mais justa. Cada qual fazendo a sua parte e
investindo em uma educação de qualidade todos serão ganhadores e o mercado
continuará a crescer, só que de forma sustentável.
[1]
Disponível em <http://www.dieese.org.br/rel/rac/salminMenu09-05.xml>
Acessado em: 23 jul. 2012. Segundo o
Dieese, “Salário mínimo necessário: Salário mínimo de
acordo com o preceito constitucional "salário mínimo fixado em lei,
nacionalmente unificado, capaz de atender às suas necessidades vitais básicas e
às de sua família, como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer,
vestuário, higiene, transporte e previdência social, reajustado periodicamente,
de modo a preservar o poder aquisitivo, vedada sua vinculação para qualquer
fim" (Constituição da República Federativa do Brasil, capítulo II, Dos
Direitos Sociais, artigo 7º, inciso IV). Foi considerado em cada Mês o maior
valor da ração essencial das localidades pesquisadas. A família considerada é
de dois adultos e duas crianças, sendo que estas consomem o equivalente a um
adulto. Ponderando-se o gasto familiar, chegamos ao salário mínimo necessário.”