segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Aprendendo com as eleições


Aprendendo com as eleições ou Qualquer semelhança com o mundo corporativo é mera coincidência

As lições dessas eleições foram muitas e podem ser trazidas para o ecossistema empresarial, vejamos algumas delas:

  1)   Mesmice


Andando pela Avenida Alberto Braune, em Nova Friburgo, foi possível observar a falta de criatividade das “placas” dos candidatos. Todas iguais! Mudam os nomes, as fotos e os números. Como se sobressair em um “mundo” de clones, e, por que não dizer de plágios? E quanto aos famosos santinhos? Triste, né! Parece até que todos os partidos e candidatos fizeram uma compra coletiva de cartazes e santinhos.
E quanto à comédia dos horários de propaganda eleitoral?
Será que as empresas seguem a mesma linha para divulgar seus produtos e serviços?
Como se destacar? Claro... sendo diferente!


  2)  Incoerência entre a fala e a ação


Muitos candidatos falaram sobre meio ambiente em suas plataformas políticas. Alguns eram até ambientalistas de carteirinha.
Quantos santinhos você recebeu que utilizavam papel reciclado?
E quanto àquelas horríveis estruturas dos cartazes, será que eram de madeira de reflorestamento? E quanto às de metais? Será que eram de ferro reciclado? Vi cartazes que usavam garrafas pet com água, nosso bem mais escasso, para evitar a ação dos ventos.
Quantas estruturas de cartazes você viu que utilizavam, por exemplo, o bambu? Eu só vi uma!
Esse tipo de fala diferente das ações, ainda é muito comum em muitas empresas.                                Porque então não alinhar a fala às ações?


   3) Candidato Pinóquio


E quanto a algumas propostas? Candidatos sem noção confundem ideias com propostas, e é claro que não vão conseguir implantá-las.
Não sei se são mentirosos, contudo é fácil perceber que algumas ideias, simplesmente, não podem ser postas em prática.
Qualquer semelhança com colegas de trabalho é mera coincidência......

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Stakeholders do ecossistema empresarial


Stakeholders do ecossistema empresarial

Segundo  o glossário de logística da GS1 Brasil, stakeholders  “significa depositários. Pessoa ou grupo com interesse na performance de organização e no meio ambiente na qual opera.” Ou seja, aqueles que têm interesse  no mercado.

Vamos exemplificar graficamente os stakeholders de uma empresa qualquer e posteriormente detalhar um pouco cada um deles e seu impacto no ecossistema empresarial.


Uma das causas mais comuns de problemas entre as partes do ecossistema empresarial é a noção de que uma das partes pode ganhar e a outra não.

Particularmente não acredito no ganha/perde, pois se eu ganho e você perde em algum momento você vai querer me dar o troco e, mesmo sem querer, começaremos uma disputa sem fim. Acredito sim, no ganha/ganha, onde eu ganho e você ganha também.  Se saímos satisfeitos, continuaremos a nos relacionar de forma construtiva e evolutiva.

Vejamos cada um dos atores se relacionando sob esta ótica:

Acionista: É o ator que criou uma empresa e espera obter lucro sobre seus investimentos. Até aí tudo bem. O que não é desejável é o acionista rico da empresa pobre. Infelizmente, essa situação ainda é muito comum, contudo, extremamente nociva. O foco exclusivamente nos resultados vai afetar diretamente um ou mais atores deste ecossistema. Será que a empresa pobre vai continuar a existir no longo prazo? Será que os clientes não irão procurar a concorrência? E o que falar dos colaboradores? O modelo mental que deve reger o acionista é o do ganha/ganha, ou seja, se eu ganho é justo que todos ganhem também, pois assim sobreviverei e terei vida longa.

Cliente: Este é o ator que permite que todos os demais participantes possam crescer e expandir. É aquele que entra com o dinheiro na troca de mercadorias e/ou serviços. Cliente satisfeito retorna e torna a comprar na empresa, o que alimenta as expectativas dos acionistas e dos demais stakeholders. Ele deseja ser bem atendido, adquirir produtos/serviços de qualidade a um preço justo. Ele sabe que para consumir constantemente é necessário que a empresa esteja saudável e em condições de produzir para atender os seus desejos. Se o cliente ganha e a empresa perde, em pouco tempo, ele não terá aonde consumir. Novamente o ganha/ganha se faz indispensável.

Colaborador: É o elo entre os atores do mercado. É ele quem vai fazer com que os acionistas e os clientes atendam suas expectativas. Além do mais ele é, também, cliente neste ecossistema. Para que ele possa consumir mais, é necessária uma maior remuneração.  O modelo mental  “patrão rico e empregado pobre” está com seus dias contados. É importante entender que os recursos dos colaboradores é quem vai movimentar a máquina capitalista. Lamentavelmente a remuneração dos colaboradores foi reduzida  nas últimas décadas. Para que haja consumo é necessário que o dinheiro circule na economia e isso só é possível quando o colaborador recebe uma remuneração justa. Talvez o ator governo tenha sido o grande vilão desta redução. A título de exemplo, o salário mínimo necessário[1] (maio de 2012)  deveria ser o equivalente a R$ 2.383,28 ao invés de R$ 622,00. Talvez (e provavelmente não é) não seja possível migrar de uma só vez para o mínimo necessário, contudo, é indispensável caminharmos nesta direção, sob pena de não conseguirmos alimentar o ecossistema empresarial.  Claro, Governo e  acionistas precisam fazer o dever de casa. O primeiro, reduzindo a carga tributária e o segundo repassando parte substancial destes ganhos ao trabalhador que ao melhorar sua condição de consumo vai alimentar essa cadeia de atores.

Fornecedor: Este ator vem mudando o foco de seus trabalhos, não apenas fornecendo “matérias primas” para a indústria, comércio e serviços e sim participando na agregação de valor aos clientes de seus clientes. É preciso considerá-lo como parceiro. Como parceiro é importante que ele possua condições saudáveis para continuar a nos oferecer produtos e/ou serviços de qualidade, com preço justo. Ele deve ganhar o suficiente para continuar a atender nossos desejos e nós também devemos ganhar pagando um preço justo, que nos permita continuar comprado de nosso parceiro fornecedor.

Concorrente: Será que eles só servem para atrapalhar? Claro que não. A concorrência é sempre saudável e, na maioria das vezes, reguladora de preços. Ainda me lembro do tempo que só tínhamos uma empresa de telefonia no Rio de Janeiro. Não tenho nenhuma saudade desta época. A concorrência nos força a melhorar produtos e/ou serviços. Além disso, se o mercado tiver maturidade, é possível participar com os concorrentes de um clube de compras, cooperando na hora de comprar e competindo na hora de vender. Essa coopetição  faz bem ao mercado. Creio que o monopólio deva ser abolido.

Governo: Este stakeholder é o menos querido dos demais atores. Pudera muitas vezes se torna sócio majoritário das empresas e dos contribuintes, e o que é pior, até agora, tem retornado muito pouco para esse ecossistema que o sustenta. Mais uma vez é preciso olhar o ganha/ganha, se ele quer evitar a evasão de arrecadação, certamente não será através do aumento no rigor dos controles, pois sempre vai existir uma brecha. Para aumentar a arrecadação o ator governo precisa reduzir a carga tributária e melhorar seus serviços, assim agindo o ator acionista certamente não vai buscar meios de burlar os controles governamentais. A lógica do mercado e, portanto do próprio ser humano, é de gastar apenas com aquilo que possa retornar de alguma forma para ele. Em 2012 foi preciso trabalhar até dia 29 de maio para alimentar este faminto stakeholder. Se o país quiser crescer e se colocar de forma definitiva no mercado internacional é preciso atacar o famoso Custo Brasil, adequar os  gastos públicos e reduzir as desigualdades sociais. Nunca é demais lembrar que a lógica do mercado considera, dentre outros, que  a produção, o consumo e a poupança são fundamentais para sua estabilidade.

Sociedade e comunidade: A empresa para se manter neste ecossistema precisa dar algum retorno para a sociedade e para a comunidade onde atua. Se assim não for iremos passar por graves problemas sociais que afetarão grandemente os  atores acionista e governo.  No passado a solução adotada por alguns governantes foi de levar a população menos favorecida para locais mais distantes das casas e dos empreendimentos. Tal fato gerou a necessidade de fornecer transportes para que esses colaboradores pudessem ir trabalhar. Os desníveis sociais geraram insegurança para os mais abastados que passara a viver em verdadeiras prisões domiciliares. Este fato é facilmente observável pelo uso de grades e câmaras de vigilâncias nas casas e nos prédios comerciais e residenciais. As empresas conscientes desenvolveram ações de responsabilidade social e aquelas mais antenadas perceberam que a sociedade e a comunidade estão representadas em seu próprio empreendimento na figura dos colaboradores. Fazer responsabilidade social é importante, pois todos saem ganhando, contudo ela deve começar em casa.

Meio ambiente: O meio ambiente passou a ser questão de sobrevivência. Produção mais limpa (P+L) deve ser a primeira preocupação. Produzir pensando nos resíduos do consumo deve estar atrelado a P+L. Assim, a sustentabilidade passou a ser a palavra do momento e ela deve estar vinculada a todos os stakeholders do ecossistema empresarial. Cada qual fazendo a sua parte. Se o meio ambiente perde, nenhum dos demais atores terá condições de ganhar.


Assim, se esta visão estiver correta, é preciso caminhar para o ganha/ganha de todos os atores do mercado se desejamos construir uma sociedade melhor e mais justa. Cada qual fazendo a sua parte e investindo em uma educação de qualidade todos serão ganhadores e o mercado continuará a crescer, só que de forma sustentável.


[1] Disponível em <http://www.dieese.org.br/rel/rac/salminMenu09-05.xml> Acessado em: 23 jul. 2012.  Segundo o Dieese, “Salário mínimo necessário: Salário mínimo de acordo com o preceito constitucional "salário mínimo fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender às suas necessidades vitais básicas e às de sua família, como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, reajustado periodicamente, de modo a preservar o poder aquisitivo, vedada sua vinculação para qualquer fim" (Constituição da República Federativa do Brasil, capítulo II, Dos Direitos Sociais, artigo 7º, inciso IV). Foi considerado em cada Mês o maior valor da ração essencial das localidades pesquisadas. A família considerada é de dois adultos e duas crianças, sendo que estas consomem o equivalente a um adulto. Ponderando-se o gasto familiar, chegamos ao salário mínimo necessário.

sexta-feira, 20 de julho de 2012


Reologia Corporativa

Há um tempo falamos sobre esse assunto em nosso blog.

Algumas palestras foram feitas e, via de regra, os participantes concordavam com a visão apresentada sobre o assunto.  Porque então não foram feitas as mudanças necessárias?

Para os que não leram sobre o assunto, a reologia, em seu conceito original, é o estudo da deformação dos materiais.  Adaptando o conceito, emprestado da mecânica de fluidos, ao mundo corporativo, teríamos o estudo das deformações, ou mudança nas atitudes, dos colaboradores em função do gerenciamento errado nas empresas.

Vejamos um caso que tem tirado o sono de muitos profissionais de Gestão do Capital Humano: como reter os talentosos?

As empresas, conforme pesquisa da ManpowerGroup, estão tendo uma grande dificuldade em contratar pessoas talentosas e qualificadas para ocupar diversos cargos. Bem, isso também está acontecendo no resto do mundo.

No Brasil[1], 71% dos empregadores acham que essa dificuldade em contratar pessoas não vai ter nenhum ou, se houver, o impacto será muito pequeno sobre os seus stakeholders, em especial os clientes e investidores.

Que tipo de impacto essa miopia empresarial pode causar nos colaboradores?

No curto prazo, sobrecarga de trabalho. Claro, alguém deve estar fazendo, além de seu trabalho, uma parte daquelas atividades que não estão sendo feitas pelo tal do talentoso que ainda não foi contratado. No começo tudo bem, mas se essa situação perdurar? Qual será o impacto dessa decisão empresarial na automotivação dos colaboradores? Certamente não será muito boa. Eis aí um ótimo exemplo de reologia corporativa.

O mais grave é que essa autodesmotivação servirá de “porta aberta” para uma mudança do funcionário sobrecarregado e, talvez, não reconhecido.

Claro que contratar está muito difícil, mais difícil ainda está manter as pessoas motivadas e interessadas em permanecer nas empresas. Uma recente pesquisa indicava que 94% dos colaboradores estariam dispostos a estudar uma possível mudança de empregador. Por quê? Por causa de um conjunto de ações de gerenciamento que beneficiam, normalmente, apenas os investidores e, muitas vezes, em detrimento aos colaboradores.

O mercado de trabalho, em especial do Rio de Janeiro,  está comprador de talentos e deve permanecer assim até, pelo menos, 2016. O governo vem fazendo o dever de casa na tentativa de qualificar pessoas, mas quanto tempo vai demorar  até que elas estejam prontas? O Pronatec e o Promimp são bons exemplos disso.

E até lá, como sua empresa vai suportar o assédio de seus concorrentes?

O que você está fazendo para segurar os seus talentos?

Você está atento à reologia corporativa? Os rumos estão sendo corrigidos?

Quando os ventos sopram forte no mundo corporativo, o respeito, a transparência, o pensar e agir em rede, a valorização e a preocupação com o desenvolvimento dos colaboradores costumam surtir efeito e tornar o ambiente de trabalho único  e, portanto, vai fazer com que ele pense duas vezes antes de mudar de trabalho.

Claro, enquanto não corrigirmos a razão dos problemas, iremos passar boa parte de nosso tempo apagando o incêndio provocado pelos gestores incompetentes.

Procure identificar as ações que possam causar deformação nas atitudes de seus colaboradores e procure eliminá-las. Assim agindo, a Reologia corporativa, ou seja, as deformações na motivação e no engajamento de seus parceiros internos, vai deixar de ser um fantasma em sua empresa.




sábado, 2 de junho de 2012

Metas dependem de pessoas para serem atingidas




Muitas empresas adotam a Visão como um marco a ser alcançado, algumas outras conseguem detalhar o que deve ser feito nos níveis estratégico, tático e operacional, seguindo os preceitos preconizados no Balanced ScoreCard.

O que fica difícil de conciliar, muitas vezes,  são os modelos mentais predominantes nos colaboradores e as declarações da Visão.

 O binômio, amplamente adotado: redução de custos e aumento de receitas, habitualmente faz parte do arsenal adotado pelos colaboradores das empresas. Outro aspecto diz respeito ao que se considera como desempenho superior que são aqueles resultados obtidos no curto prazo. Até ai, nada contra. O que devemos ponderar é com relação ao impacto que essas metas causam na corporação e nos colaboradores.

Se a redução de custos significar, por exemplo, não investir em um novo maquinário já previsto, duas situações fatalmente serão geradas: a primeira, no curto prazo, os números vão indicar uma diminuição nos gastos, ou seja, um desempenho superior na redução de custos, contudo, uma segunda situação vai ocorrer em um espaço de tempo um pouco mais distante, os custos de produção vão perder competitividade e aí, quem não vai gostar são os clientes. Os clientes insatisfeitos com o preço do produto vão deixar de consumi-los o que fatalmente irá afetar as receitas e, consequentemente, o humor dos acionistas. Resultado: nova redução de custos, agora impactando diretamente nos colaboradores. É preciso estar atento ao curto prazo sem perder de vista o longo prazo.

O que muitas empresas esquecem, qualquer que seja a Visão, é que para atingir resultados excepcionais são necessárias pessoas excepcionais, talentosas e engajadas.
Nunca é demais lembrar que o grande desafio das empresas, principalmente as do Rio de Janeiro, continua sendo a retenção do colaborador e, este cenário não deve mudar, significativamente, até 2016. E o que dizer da retenção da geração Y?

Bem... E como podemos reter pessoas? Claro que salários e benefícios são importantes, principalmente porque eles sofreram um forte achatamento nas últimas décadas. Contudo, isso parece ser uma constante no mercado.  Para reter pessoas é necessário que o modelo mental predominante seja aquele que perceba que são as pessoas que fazem a diferença.

Este modelo mental pressupõe que os colaboradores sejam respeitados como seres humanos capazes de transformar realidades adversas. Considera ainda que a transparência deve permear todas as ações empresariais, ai se pode incluir a ética, a sustentabilidade, o desenvolvimento das pessoas  e o atendimento dos anseios dos stakeholders.  Pessoas que agem com respeito e transparência vias de regra conseguem obter um ambiente de trabalho agradável. Se a esses ingredientes incluirmos trabalho em rede, onde as pessoas participem e se citam desafiadas em suas atividades, muito provavelmente, criamos um ambiente de trabalho único, e, certamente,  o colaborador vai levar isso em conta na hora de pensar em mudar de emprego.

Bem, uma empresa cujo modelo mental  dos colaboradores seja o acima descrito, dificilmente, vai ter dificuldades em atingir resultados.

Para atingir resultados excepcionais de forma duradoura, é preciso que as pessoas sejam tratadas com respeito e com a transparência transpassando todas as ações. Trabalho em rede é outro aspecto que facilita atingir e superar metas. Assim, respeito, transparência e trabalho em rede são os ingredientes principais da receita de sucesso. Metas dependem de pessoas para serem atingidas.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Mudando o clima organizacional

Mudando o clima organizacional

Estamos vivendo, principalmente no Rio de Janeiro, um momento de grande expansão, mesmo que menor que no ano passado, no mundo dos negócios. E isso pode ser bom e ruim ao mesmo tempo.

No ano de 2010[i], 53% dos empregados com carteira assinada, simplesmente, mudaram de emprego. O que será que aconteceu em 2011? Com certeza, em breve ficaremos sabendo.

Pesquisa da Trabalhando.com e divulgada pela ABRH-RJ, via twitter, trouxe informações que muitos empresários não gostariam de saber: seus colaboradores estão prestes a mudar de emprego[ii]. Pasmem... noventa e quatro em cada cem empregados pretendem mudar de emprego esse ano! (ver post anterior)

Será que as pessoas estão insatisfeitas com a empresa ou com a forma como ela é gerenciada? Se você pensou na segunda opção, acertou. O problema é de gerenciamento, ou melhor, na má utilização das ferramentas de gestão.

Infelizmente todos se sentem em condições de assumir a função de gestor. Bem, a  forma como as empresas se organizam levam a essa expectativa. Na maioria das empresas se tornar  gestor é a única forma de progredir. Será que a antiga fórmula em “I”: júnior, pleno, sênior, gestor é apropriada para um mundo impermanente, onde a mudança passa a ser questão de vida ou morte? Para esse mundo acelerado, o uso de fórmulas antigas já não são mais eficazes. Em um mundo novo, novas formas devem ser adotadas. A progressão funcional em “Y”, onde o colaborador opta entre o crescimento para gestor ou continuar como técnico, com salários equivalentes, possibilita uma adequação ao perfil de cada um, sem limitar sua expectativa de crescimento, além de criar um nível de satisfação tal que o colaborador vai pensar duas vezes antes de se decidir em mudar para o concorrente.

Outro modelo antigo que se usa para resolver novos problemas é a preocupação excessiva com os resultados de curto prazo. Claro que os resultados imediatos são importantes, contudo, jamais se deve privilegiá-los e esquecer os resultados almejados para o longo prazo. São esses últimos que vão garantir a sobrevivência da empresa.

Se todos sabem da importância de uma gestão transparente, por que então praticam um gerenciamento opaco e não inclusivo? Com habitualidade esse formato mina o entusiasmo e a motivação dos colaboradores. Esse fato me remete a  outro distanciamento: já que todos sabem que o uso de sacolas plásticas é nocivo ao meio ambiente porque então tão poucos usam, com constância, sacolas retornáveis? Será que o ser humano é assim? Será que os colaboradores não possuem maturidade emocional para participar das decisões que envolvam os seu trabalho? Claro que não! O modelo mental fordista de que os funcionários são incapazes de pensar sistemicamente sobre o negócio parece com a visão de que as sacolas plásticas são mais práticas. Quando a oratória é diferente da prática é natural que se perca confiança nos gestores e, consequentemente, procure-se outro lugar para trabalhar.

Motivação tem sido um dos fatores mais buscados no olhar e nas ações dos empregados. O que a empresa vem fazendo para que isso seja possível? Ao invés de motivação, deve-se buscar pelo engajamento entre pessoas e empresas. A grande “dificuldade” de se conseguir o engajamento das pessoas se deve ao fato de ser necessária a contraprestação da empresa. Sua empresa cria condições para os colaboradores se sentirem engajados? Não? Então, cuidado! Seu concorrente deve estar pescando seus colaboradores mais talentosos. Por que não adotar uma via de mão dupla, onde as ações empresariais irão conduzir ao engajamento dos funcionários?

Qual foi a última vez que você, gestor amigo, valorizou seu colaborador em público? Quem não gosta de ser reconhecido? Adote a máxima: valorize em público e repreenda, construtivamente, em segredo.  Quando seu colaborador errar, converse com ele de tal forma que vocês identifiquem as causas dos erros e construam ações que evitem que eles se repitam. Se sua empresa é intolerante com o erro, não espere pro-atividade e mudanças significativas, portanto, prepare-se para manter o status quo. Se a empresa pretende ser inovadora, deve ser tolerante com erros eventuais e valorizar os colaboradores, sempre que possível.

Lembre-se da máxima cristã: Faça aos outros, aquilo que você gostaria que fizessem com você. Ou quem sabe: Quem semeia vento, colhe tempestade.

Em um momento em que as pessoas qualificadas são escassas para a demanda existente, reter o capital humano é olhar o cenário dos negócios com os óculos corretos. Creia, ainda é possível mudar o clima organizacional de sua empresa. A escolha é sua!



[i]  Disponível em:    Acesso em 02 dez. 2011

[ii] Disponível em Acesso em 05 mar. 2012

segunda-feira, 5 de março de 2012

Cuidado, seus colaboradores estão querendo ir embora!

Noventa e quatro por cento dos brasileiros pesquisados querem mudar de emprego




Uma pesquisa conduzida pela Trabalhando.com e divulgada no twitter através da ABRH-RJ, trouxe informações que muitos empresários não gostariam de saber: seus colaboradores estão prestes a mudar de emprego.

A pesquisa envolveu uma amostra de 572 profissionais e seu resultado, estarrecedor para alguns, apontou para uma realidade que necessita ser encarada com maturidade lógico-emocional.


Vejamos a composição desses dados:
     
  • 57%  dos entrevistados querem mudar de emprego por não perceberem oportunidades de crescimento na empresa onde estão;
  •  37% dos pesquisados querem aproveitar o momento de aquecimento, principalmente do Rio de Janeiro, para melhorar sua remuneração.


E agora? Ainda há tempo para reverter este quadro? Claro que sim!
Para modificar esse quadro é preciso olhar para essas respostas e verificar o que a empresa tem feito, principalmente, nesses dois quesitos.

Responda com honestidade: seus colaboradores sabem o que fazer para poder progredir na empresa? Se sim, aparentemente as oportunidades de crescimento não estão alinhadas com os tempos do pré-sal, copa do mundo, olimpíadas, Porto do Acú... Se não, ainda dá tempo de divulgar essas oportunidades. E com relação à remuneração? A empresa está preparada para competir com empresas ansiosas por novos colaboradores para poder crescer?

É hora de rever o Plano de Cargos e Salários? Talvez, contudo, na maioria das vezes as pessoas não estão insatisfeitas com a empresa e sim com seu chefe. Chefes tóxicos talvez até tragam resultado de curto prazo, todavia, geram um clima organizacional bastante ruim.

Quando construímos ambientes de trabalho agradáveis, criativos e estimulantes criamos um benefício intangível que vai fazer com que os colaboradores reflitam mais e sejam mais exigentes na hora de mudar a camisa. E o que é melhor: isso não custa nada!

Fonte: Pesquisa disponível em Acesso em 05 mar. 2012

Multibloqueadores à criatividade e inovação

MULTIBLOQUEADORES À CRIATIVIDADE E A INOVAÇÃO

Meu trabalho é inspirar pessoas. É criar espaço para elas,
abrir clareiras criativas no meio da burocracia corporativa.
Steve Jobs

Neste  capítulo vamos nos ater aos aspectos que cerceiam a criatividade e, consequentemente, a inovação. De nada adianta o processo visionário para ligar a ideia semente à inovação, se não conseguirmos eliminar os diversos fatores limitadores à criatividade  existentes.

Antes de nos enveredarmos na selva dos multibloqueadores empresariais, talvez seja interessante analisar duas empresas líderes em seus segmentos que tratam esse assunto absolutamente de forma divergente: o Google (OLIVEIRA, 2010, p. 1 e COSTA, 2010, p. 32 a  43) e a Wal-Mart (GUROVITZ, 2005, p. 22 a 28).

A primeira, sonho de emprego da maioria dos jovens da geração Y, não encontra problemas com o uso das redes colaborativas, nem  tão pouco com o cumprimento de horário por parte de por seus colaboradores. Segundo Matsuo (citado por Oliveira, 2010, p.1) “a produtividade não está atrelada ao “bater ponto””. O capital humano é muito valorizado e existe uma grande preocupação com o recrutamento e a retenção de talentos. O ambiente empresarial é descontraído, personalizável e possui ambientes que “fazem esquecer que se está em um escritório comercial” (COSTA, 2010, p. 32).  Sua missão [1] “é organizar as informações do mundo todo e torná-las acessíveis e úteis em caráter universal”. Fundada em 1998 por Larry Page e Sergey Brin, possui cerca de 20.000 colaboradores. É uma das empresas que mais cresce no mundo.

A segunda, Wal-Mart,  foi criada em 1962 por Sam Walton (falecido em 1992). A sede da companhia é em Bentonville, uma pequena cidade do Arkansas com cerca de 26.000 habitantes. É a maior rede varejista do mundo com cerca de  1,7 milhão de funcionários e (em 2005) cerca de 300 bilhões de dólares em vendas anuais.

Para seus críticos, é símbolo de tudo que há de errado no capitalismo e na globalização. Uma corporação , que compra produtos a preço de banana em países asiáticos, compactuando com trabalho semi-escravo, para revendê-los garfando suculentas margens de lucro. Uma empresa com tentáculos gigantescos, capazes de destruir o pequeno comércio e de espremer cada centavo nas negociações com fornecedores, até levá-los à bancarrota. Um empregador cruel, que paga os piores salários do mercado, discrimina mulheres e minorias, desdenha planos de saúde e combate ferozmente os sindicatos (...). Um grupo de fanáticos moralistas, capazes de censurar CDs, filmes e livros, de proibir remédios legais – como uma versão da pílula do dia seguinte – e de tentar impor ao resto do planeta a cultura caipira do Meio-Oeste americano.
(GUROVITZ, 2005, p.23-24)

Os dois modelos de gestão, antagônicos entre si, nos levam a refletir sobre o sentido da existência dos modelos apresentados. O primeiro, de vanguarda, reflete parcela significativa do pensamento empresarial do autor. O segundo, apesar de produzir resultados financeiros excepcionais, não se alinha com nossos valores e percepções.             

2.1.           Modelos mentais antigos e limitadores


Antes de identificarmos os diversos bloqueadores decorrentes de nossos modelos mentais, vamos entender como funciona a nossa rede neural.
 O cérebro humano é considerado o mais fascinante processador baseado em carbono existente, sendo composto por aproximadamente 10 bilhões neurônios. Todas as funções e movimentos do organismo estão relacionados ao funcionamento destas pequenas células. Os neurônios estão conectados uns aos outros através de sinapses, e juntos formam uma grande rede, chamada REDE NEURAL. As sinapses transmitem estímulos através de diferentes concentrações de Na+ (Sódio) e K+ (Potássio), e o resultado disto pode ser estendido por todo o corpo humano. Esta grande rede proporciona uma fabulosa capacidade de processamento e armazenamento de informação.
O sistema nervoso é formado por um conjunto extremamente complexo de neurônios. Nos neurônios a comunicação é realizada através de impulsos, quando um impulso é recebido, o neurônio o processa, e passado um limite de ação, dispara um segundo impulso que produz uma substância neurotransmissora o qual flui do corpo celular para o axônio (que por sua vez pode ou não estar conectado a um dendrito de outra célula). O neurônio que transmite o pulso pode controlar a freqüência de pulsos aumentando ou diminuindo a polaridade na membrana pós sináptica. Eles têm um papel essencial na determinação do funcionamento, comportamento e do raciocínio do ser humano. Ao contrário das redes neurais artificiais, redes neurais naturais não transmitem sinais negativos, sua ativação é medida pela freqüência com que emite pulsos, freqüência esta de pulsos contínuos e positivos. As redes naturais não são uniformes como as redes artificiais, e apresentam uniformidade apenas em alguns pontos do organismo. Seus pulsos não são síncronos ou assíncronos, devido ao fato de não serem contínuos, o que a difere de redes artificiais.

Os principais componentes dos neurônios são:
Os dentritos, que tem por função, receber os estímulos transmitidos pelos outros neurônios;
O corpo de neurônio, também chamado de somma, que é responsável por coletar e combinar informações vindas de outros neurônios;
E finalmente o axônio, que é constituído de uma fibra tubular que pode alcançar até alguns metros, e é responsável por transmitir os estímulos para outras células.
Figura 5 - Esquema dos constituíntes da célula neural[2]


Uma observação importante: somos frutos dos registros realizados ao longo de nossas existências. Isso nos remete aos formatos dos multiestimuladores da criatividade que sempre nos fazem repensar de forma diferente daquela que estaríamos acostumados a fazer. Um bom exemplo é a técnica de Pensar em Liberdade (PL) onde somos instigados a pensar desordenadamente, a  pensar misturando tudo, a pensar criticamente (de forma radical e destrutiva), a pensar de forma incoerente, a pensar fantasticamente, a pensar ativa/automaticamente. Imediatamente após esse exercício de desbloqueio passamos a expandir nossa mente no real e no possível através da análise das variáveis e ingredientes, do pensar em alternativas, identificar os impossíveis, transformar impossíveis em possíveis, criar porquês encadeados (onde identifica as razões e depois as contradiz) e, assim, libertando nosso cérebro dos registros anteriores, podemos pensar libertos de nossos conceitos preexistentes.

Convém ressaltar que “todo ser vivo dotado de um sistema nervoso é capaz de modificar o seu comportamento em função de experiências passadas. Essa modificação comportamental é chamada de aprendizado, e ocorre no sistema nervoso através da propriedade chamada plasticidade cerebral.”[3]  Pensar em liberdade (PL) nos auxilia, rapidamente, a encontrar essa plasticidade e reeducar nosso pensar.

No capítulo IV – Preparando ambientes corporativos criativos e inovadores, vamos estudar como é possível pensar fora da caixa e modificar os modelos mentais tradicionais que não permitem realizar o salto quântico que levará as corporações ao mundo N=1 e R=G, conforme visto anteriormente.

Vejamos, portanto, alguns modelos mentais tradicionais e seus impactos nos colaboradores da organização:

1.      Modelo mental antigo: “Precisamos manter um controle rigoroso sobre os custos”
Ações típicas desse modelo mental: conter salários, protelar melhorias no ambiente e evitar ações de ampliação no nível de serviços aos clientes.
Resultados: Colaboradores insatisfeitos, alto custo no futuro para atualizar o patrimônio da empresa e clientes buscando os concorrentes.

2.      Modelo mental antigo: “Só se gerencia aquilo que se mede” (Peter Drucker[4])
Ações típicas desse modelo mental: somente as ações tangíveis são observadas. Ações que ainda não conseguimos medir são descartadas. Um bom exemplo disso é: quanto vale a motivação dos colaboradores, ou seja, se não consigo medir o quanto a motivação produz em resultados, simplesmente não consigo gerenciar e, portanto, descarto. Será que ganhos, hoje, intangíveis não merecem nossa atenção? Certamente não foi esse o foco do guru da administração contemporânea.
Resultados: continuamos gerenciando empresas como se estivéssemos em 1900. Até quando elas irão sobreviver em um mundo mutante?

3.      Modelo mental antigo: “É preciso gerenciar as metas pensando no horário dos funcionários”
Ações típicas desse modelo mental: se o funcionário atinge sua meta diária antes do horário previsto, deve continuar produzindo até que soe o apito da fábrica. Se por mais de uma vez ele terminar mais cedo, as metas devem ser revistas e ampliadas para que ele ocupe todo o seu tempo. O resultado final será um novo estudo de tempos e movimentos para determinar um novo patamar de metas.
Resultados: os colaboradores passam a realizar o trabalho sem nenhuma pressa, pois sabem que ela não vai beneficiá-los. Felizmente algumas empresas já descobriram que a administração por tempo de trabalho não leva a incremento de produtividade.  Oliveira (2010) registra a fala de  Deli Matsuo, Diretor de Recursos Humanos do Google América Latina, na Conferência Nacional de Gestão de Talentos 2010 “a produtividade não está atrelada ao “bater ponto””.

4.      Modelo mental antigo: “Precisamos cumprir as metas de curto prazo”
Ações típicas desse modelo mental: controle rigoroso de custos, principalmente dos salários; falta de percepção da importância dos investimentos que venham a produzir resultados no curto e longo prazo; falta de modernização das máquinas e equipamentos; pressão excessiva e não compensatória nos colaboradores; extrair o máximo dos fornecedores.
Resultados: estresse nocivo à saúde dos colaboradores; envelhecimento de máquinas e equipamentos, reduzindo gradativamente a produção; insatisfação dos funcionários em face de não recompensa pelos esforços realizados; perda desnecessária de clientes e fornecedores.

5.      Modelo mental antigo: “Redes colaborativas atrapalham a produtividade”
Ações decorrentes desse modelo mental: restringir e/ou controlar o acesso dos funcionários a essas redes; desenvolvimento de sites e blogs corporativos não alinhados como o mundo digital e com o novo perfil de consumidores; participação atabalhoada nas redes sociais, mormente pelo fato de querer se utilizar das mídias que mais crescem no mundo.
Resultado: Insatisfação dos funcionários, desagrado dos consumidores e ações inócuas e muitas vezes desastrosas no mundo virtual.

6.      Modelo mental antigo: “A concorrência é nociva”
Ações decorrentes desse modelo mental: Foco exclusivo em ações que venham derrubar a concorrência. Disputas na propaganda, por preços e por qualidade. O mercado passa a ser enxergado como uma selva extremamente competitiva.
Resultados: A coopetição e a inovação aberta deixam de ser utilizadas, aumentando a dificuldade de produzir inovações. A cada dia as fusões estão mais presentes na vida empresarial fazendo como que, muitas vezes, os inimigos se tornem sócios. (FUSCO, 2010, p. 104). O mundo N=1 e R=G fica cada vez mais distante.

7.      Modelo mental antigo: “O segredo é a alma do negócio”.
Ações decorrentes desse modelo mental: Muito semelhante ao anterior, às ações visam à manutenção de segredos industriais. Um grande exemplo é o Centro de Estilo da Fiat brasileira, único do gênero fora da Europa, onde “apenas 45 designers e engenheiros tem acesso ao galpão onde são desenhados os novos modelos da marca no país.” (AMORIM, 2010, p. 95) Contudo, são obrigados a deixar seus celulares e máquinas fotográficas do lado de fora das instalações, além de serem proibidos de comentar sobre os projetos com amigos e familiares.
Resultados: Pequena velocidade no lançamento de novos produtos e falta de aproveitamento dos recursos globais (R=G). Perda de mercado.

8.      Modelo mental antigo: “O erro deve ser punido”
Ações de correntes desse modelo mental: Talvez esse modelo mental tenha em suas raízes o primeiro conceito de qualidade – fazer certo da primeira vez, conforme o especificado – ou seja, o zero erro. O fazer diferente do especificado, com habitualidade, resulta em punição que muitas vezes culmina na demissão do colaborador.  Claro que um colaborador que erra sempre deve de alguma forma, receber um feedback e, posteriormente, ser punido. Para minimizar esse problema, muitas empresas adotam a famosa caixa de sugestões e creem que estão auxiliando a criatividade de seus colaboradores e reduzindo a possibilidade do erro dos seus subalternos. A busca pelo garantido e pelo sem risco é outra característica desse modelo mental. A questão é: será que errar eventualmente não é uma coisa saudável? A história de diversos inventores, pesquisadores e de empresários de sucesso está repleta de exemplos onde o erro, levou a uma mudança de conceito que tornou seu invento, sua pesquisa ou seu empreendimento um estrondoso sucesso. Para Nóbrega (2007, p.78) “sociedades não inovadoras tendem a se apegar ao certo, ao sem risco, ao garantido”.
Resultados: Como defesa, o colaborador se limita a realizar aquilo que é orientado a realizar, seguindo a receita previamente estabelecida para sua execução. Não correr riscos, certamente, será uma de suas táticas de sobrevivência. A auto desmotivação provavelmente será o estágio seguinte e, posteriormente seu desligamento das empresas.

Esses e outros modelos mentais merecem ser analisados com maior profundidade, tendo em vista o impacto que eles podem causar nas organizações. Trata-se de tema fértil e de grande alcance que carece de estudos.


2.2.           Modelos comportamentais tóxicos e competitivos


Vamos nos aprofundar em alguns modelos comportamentais que fazem parte do dia a dia das organizações. Segundo o dicionário Aulete (op. cit.), comportamento significa “modo de agir, em geral ou em uma determinada situação; conduta”. Como podemos observar esse modelo difere dos modelos mentais em que pese serem bastante próximos. Muito provavelmente os comportamentos são oriundos dos modelos mentais de seus executores. Cabe destacar a percepção de que os comportamentos são fruto de nossos modelos mentais:
Peter Senge, um importante pesquisador da área, acredita que a base para a transformação das pessoas e, por consequência, sua adaptação ao trabalho em equipe, está na compreensão dos modelos mentais que cada indivíduo possui. O modelo mental é composto de aspectos biológicos, históricos e culturais e, além de ser único (individual), é ele que cria nossos valores e premissas. (...). A questão comportamental está diretamente relacionada aos modelos mentais. Se não mudarmos a nossa maneira de pensar, não mudaremos a forma de agir. O verdadeiro aprendizado se dá quando passamos a investigar nossa forma de pensar e descobrimos que as nossas verdades podem ser questionadas e transformadas pelas outras pessoas.
(VILAÇA,2008)

Vejamos alguns modelos comportamentais que interferem na criatividade e, consequentemente, no processo de inovação empresarial. A relação a seguir merece ser ampliada e aprofundada.

1.        Chefes tóxicos: Para Bottoni (2009) um chefe tóxico é aquele contamina negativamente o ambiente de trabalho com seu comportamento. Também é conhecido como chefe tirano. Normalmente é ditatorial, culpa os outros pelos fracassos e está sempre de mau humor.
Ações típicas: ações incompatíveis com os valores das empresas; falta de respeito pela equipe; desrespeito as pessoas através de seu tom de voz, sua oratória; incapacidade de estimular o crescimento dos colaboradores; suas críticas não são construtivas; centralização excessiva; individualista; dificilmente atrai e retém os melhores talentos da empresa e, habitualmente, gerencia pelo medo. Para Gehringer (2008, p. 22) “É fácil reconhecer um chefe tirano. Difícil é conviver com ele. (...) é aquele que manda e desmanda. Que não ouve nem respeita ninguém. Que se irrita só com o fato de alguém esboçar uma opinião diferente. Que age como se fosse o dono de seus subordinados”.
Resultados: desmotivação e insatisfação da equipe; resultados duvidosos no longo prazo; falta de confiança dos pares e subordinados; cria um clima de excessiva competitividade. Segundo Bottini (2009) “as empresas ainda toleram pessoas com comportamento inadequado simplesmente porque elas entregam resultados no curto prazo”.

2.      Workaholic: é o profissional viciado no trabalho. Normalmente é o primeiro a entrar no escritório e o último a sair.
Ações típicas: excessivo número de horas dedicado ao trabalho; falta de preocupação com a sua saúde e com a dos colaboradores; exige atitude semelhante de seus funcionários; estimula o crescimento profissional de outros que possuam características semelhantes a sua; dedica, mesmo fora do escritório, todo seu tempo ao trabalho; cabe ressaltar que “o excesso de trabalho foi o principal fator de estresse entre os profissionais brasileiros em 2009”. (TOZZI, 2010, p.29)
Resultados: Além de problemas de saúde, que podem afastá-lo do trabalho, esquecem que essa era a visão do mundo onde a “equação definidora era: preço = custo + margem (...). A equação de hoje é outra: valor = cliente + capital intelectual. Logo, a base para criação de valor são os ativos intangíveis, como capturar a inteligência dos colaboradores e as necessidades dos clientes”. (TEIXEIRA, 2010 p. 90) e nesse contexto é necessário um novo perfil profissional: o worklover.

3.      Excesso de competitividade: É o profissional que não consegue viver longe da competição. Ele compete com tudo e com todos.
Ações típicas: Normalmente quer ser sempre o vencedor. Usa seu poder, com frequência, para destruir seus oponentes. Seu foco de negociação é o “ganha – perde”, ou seja eu ganho e você perde. Exige de sua equipe postura semelhante a sua. Valoriza apenas os funcionários altamente competitivos. Algumas vezes usa os ombros de seus pares (ou parceiros) como escada para o seu crescimento. Segundo Gurovitz (2005, p. 24), citando os críticos da Wal-Mart, ela  “é o símbolo de tudo que há de errado no capitalismo e na globalização (...) compactuando com o trabalho semiescravo (...) é (capaz) de espremer cada centavo nas negociações com fornecedores, até levá-los à bancarrota”.
Resultados: Um colaborador (ou empresa) viciado em competição não consegue enxergar as oportunidades das fusões, da inovação aberta e da coopetição. Habitualmente o ambiente de trabalho é estressante e os colaboradores trabalham com receio de suas ações. Seu “oponente” na negociação, na primeira oportunidade, pode realizar manobras para vê-lo em situação desconfortável ou de queda.

4.      Gestão não compartilhada: A delegação não faz parte de seu dia-a-dia. É o chefe que não sabe compartilhar.
Ações típicas: Pessoa altamente centralizadora, que não consegue delegar responsabilidades e autoridades para os seus colaboradores. É provável que por trás de um centralizador exista uma pessoa que não sabe trabalhar em time e que não acredita na capacidade de seus colaboradores. As decisões são tomadas por uma única pessoa que não sabe ouvir. Habitualmente não participa os resultados das reuniões, altera planos sem consultar seu criador e decide sem ouvir ninguém.
Resultados: Segundo Simões  (2005, p. 57), “quando a empresa é pequena, o dono pode e deve controlar cada etapa do negócio. Mas, quando ela dobra de tamanho, centralizar o poder é um grande erro”. Um dos resultados mais comuns é a baixa taxa de retenção de talentos. Quase sempre é mal visto por seus funcionários que se sentem sem oportunidades para crescer e de participar das decisões que os envolvem.

5.      Assédio Moral: Segundo define Hirigoyen, psiquiatra francesa e pioneira no estudo desse tema, citada por Khoury (2006) “assédio moral no trabalho (é) toda e qualquer conduta abusiva, manifestando-se sobretudo por comportamentos, palavras, sonalidade, à dignidade, à integridade física ou psíquica de uma pessoa, pôr em perigo seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho”. Ou seja, é a exposição repetitiva e prolongada de situações constrangedores dos trabalhadores em uma empresa.
Ações típicas: Hirigoyen (KHOURY, 2006. p. 45-47) destaca as ações morais mais frequentes:  Atentado às condições de trabalho ( é quando dificulta ou prejudica o desempenho do trabalho);  Isolamento do trabalhador e recusa de comunicação direta ( o isolamento se dá de forma gradativa e o colaborador é privado de acesso a uma ferramenta importante para realização de seu trabalho);  Atentado à dignidade do trabalhador (o trabalhador é rotulado por algum conceito pejorativo ou passa a ser criticado diante de seus colegas ou superiores); Violência verbal ou física (o colaborador passa a ter sua vida pessoal invadida e ridicularizada). Na mesma linha, podemos citar a tendência que algumas empresas estão adotando através da implantação de câmeras para vigiar as ações dos colaboradores. Finalmente a era dos “Charles Chaplin modernos”, caracterizado no filme Tempos Modernos, chega ao fim.
            Resultados: Em decorrência da falta de condições de trabalho, o colaborador tende a se sentir incompetente, tendo em vista não conseguir realizar seus trabalhos adequadamente. O isolamento tende a expulsar, de forma velada, o colaborador da empresa ou, no mínimo, do setor por se sentir constrangido e relegado a um segundo plano. O atentado à dignidade abala a autoestima fazendo-o se sentir humilhado e discriminado. A violência verbal ou física com habitualidade passa a agir diretamente na saúde do trabalhador causando insônia, estresse, hipertensão arterial, abuso do álcool e, consequentemente, auto desmotivação e aumento de suas faltas. Contudo, são as ações judiciais aquelas que oferecem o maior risco institucional. No Brasil é prática comum à restrição ou limitação de tempo ao acesso ao banheiro ou beber café ou água, principalmente em confecções e empresas de telemarketing. O Tribunal Superior do Trabalho[5] acolheu, em 05/02/10, o pedido de ação de danos morais movida por uma funcionária de uma empresa de telemarketing que limitava em cinco minutos a ida ao banheiro. A empresa  tinha como norma, além do tempo acima, que as demais idas ao banheiro deveriam ser justificadas. A empresa foi condenada a pagar R$ 10.000 (dez mil reais) a título indenizatório, tendo em vista que a juíza entendeu que tal fato feria a constituição nacional, pois, violava os direitos constitucionais da autora, bem como sua honra e a dignidade da pessoa humana. O número de ações envolvendo o assédio moral vem crescendo no Brasil, conforme pode ser visto no quadro 3 – Volume de Ações de Assédio Moral no Brasil.

Quadro 5 - Volume de ações de assédio moral no Brasil
Ano
2007
2008
2009
Até julho 2010
Volume
106
261
434
245

É provável que o incremento desse volume esteja ocorrendo pelo aumento da consciência do trabalhador brasileiro ou que aja certa banalização dessas ações, ou seja, qualquer deslize do empregador o empregado entra com uma ação de assédio moral.
6.      Assédio Sexual: Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego brasileiro o assédio sexual é a “abordagem, não desejada pelo outro, com  intenção sexual ou insistência inoportuna de alguém em posição privilegiada que usa dessa vantagem para obter favores sexuais de subalternos ou dependentes”[7].  A lei brasileira de número 10.244 de 15 de maio de 2001 trata do assunto e o define como “Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função” (PINTO,2005). O assédio sexual, portanto, considera várias vertentes que podem ser resumidas como segue:  não existe distinção entre o sexo do assediador ou assediado, assim, um ou outro pode ser do sexo masculino ou feminino ou ainda do mesmo sexo; habitualmente, contudo não obrigatoriamente, o assediador(a) possui algum tipo de ascendência sobre o assediado(a);  o assédio pode ser explicito ou subliminar;  face as suas características é de difícil julgamento por parte das autoridades competentes.
Ações típicas: um convite para o almoço ou jantar, fora do horário do trabalho; colocação em risco do emprego do(a) assediado(a), ação esta conhecida como assédio moral por chantagem ou ambiental; conversas e piadas maldosas; intimidação, onde as características do assediador estão em estreita ligação com seu comportamento agressivo. Assim, a obtenção de favores sexuais é  execrável e punível pela legislação brasileira.
Resultados: o(a) assediado(a) pode recorrer a justiça propondo danos morais ou aos superiores pedindo a rescisão do contrato do trabalho do(a) assediador(a) por justa causa. O surgimento do estresse e  de outras doenças também podem ser decorrentes dessa situação vexatória. A redução na produtividade, o aumento no nível de insatisfação no trabalho, auto desmotivação e, até, a perda do colaborador por demissão são resultados típicos da existência desse comportamento no ambiente de trabalho.
Cabe ressaltar que a resiliência, o equilíbrio, o autoconhecimento e a habilidade de negociação são sempre importantes para lidar com o assédio sexual e moral. Segundo Rodriguez (2006, p.10), em tradução livre pelo autor, “é a capacidade  dos seres humanos de ressurgir a partir do caos e da desordem característicos das situações de adversidade.(...)” Corroborando Rodriguez (2006) e Correia (2008), Navarro (2006, p. 33) indica que o termo resiliência “deriva da física e significa que alguns materiais tendem  acumular energia quando submetidos a um grande esforço, voltando ao seu estado original sem qualquer deformação”. Assim o ser humano possui resiliência quando assume sua capacidade de superação às pressões sofridas, retornando ao estado anterior ao do embate.


[1] Disponível em [Consultado em 12/07/2010]
[2] Disponível em [Consultado em 17/04/ 2008]

[3] Disponível em [Consultado em 18/01/2009]

[4] Disponível em [Consultado em 05/07/2010]
[5] Justiça condena empresa que limitava ida ao banheiro. Disponível em .   [Consultado em 08/02/2010]

[6]  Humilhação no Trabalho. Disponível em< http://www.dalmoro.com.br/noticias/107> [Consultado em 26/08/2010], citando como fonte  a  Folha de São Paulo, por Bruna Borges, Cristiane Queiroz, e Roberto Heloani, de 09.08.2010

[7]  Assédio Moral ou Sexual. Disponível em   [Consultado em 25/08/2010]