segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O que as empresas podem aprender com as tragédias.


O que as empresas podem aprender com as tragédias.

Os noticiários não param de falar sobre a tragédia que se abalou sobre a região serrana do Rio de Janeiro, contudo, as vivências em Nova Friburgo, certamente, se repetiram nas demais regiões. São elas que servem de base para este artigo.

Lição 1 – Se alguma coisa precisa ser feita com urgência, a cooperação e o trabalho em time é a melhor opção: Em nossa cidade pessoas que nunca haviam se visto se uniram na tentativa de salvar vidas. Uma aula de trabalho em time. A fogueira das vaidades foi abandonada em detrimento da meta maior: salvar ou confortar vítimas. Quando a meta é entendida por todos e os valores são relevantes o trabalho flui como se todos estivessem treinados para resolvê-los. Pedreiros, dentistas, professores, domésticas, estudantes, donas de casa etc se uniram para realizar alguma ação que pudesse ajudar na tragédia. Porque será que as empresas gastam fortunas para criar o espírito de equipe em seus colaboradores? Porque será que nas tragédias as pessoas formam times com lideranças espontâneas que funcionam? A resposta parece simples: a meta é entendida por todos e os valores são relevantes. Assim: crie metas (independente do grau de dificuldade); faça com que todos entendam; que as metas sejam relevantes; engaje as pessoas; respeite as pessoas; acredite nas pessoas; creia que a diversidade pode se tornar na unidade inquebrantável (através da cooperação espontânea); adote e pratique valores que conduzam a equidade das pessoas. Eis a chave do sucesso que essa primeira lição nos dá. 

Lição 2 – Permita que as pessoas realizem trabalhos que sejam adequados as suas características:  Nas tragédias aquelas pessoas que estão mais aptas para realizar salvamentos criam forças tarefas e fazem coisas impensáveis através de ações criativas, na maioria das vezes simples. Voluntários se unem para descarregar caminhões em tempo recorde ou para, como elos de uma corrente, montar cestas básicas que irão amenizar o sofrimento de muitos. Bombeiros, soldados, adolescentes, mecânicos, produtores rurais etc todos juntos em torno de um mesmo objetivo. Na maioria das empresas para crescer as pessoas deixam suas funções técnicas para agir como gestores. Normalmente perde-se um ótimo técnico e ganha-se um gestor medíocre. Porque não criar um sistema de recompensas em “Y” onde técnicos e gestores possam progredir, cada qual na sua praia? E mais, dê para as pessoas tarefas desafiadoras e não as puna por fracassos esporádicos. A participação e a realização são os maiores prêmios para esses colaboradores.
Lição 3 – Olhe o curto prazo sem perder de vista o longo prazo: As crises podem ser associadas a um paciente em estado grave que chega a um hospital – o primeiro passo é salvar a vida, depois estabilizar o quadro e, finalmente, curar o paciente. Assim na crise, assim nas empresas. Na tragédia em Nova Friburgo não foi diferente: o primeiro passo foi criar acessos que possibilitariam chegar às vítimas; o passo seguinte foi montar uma infraestrutura que possibilitasse atender aos resgatados que naquele instante apresentavam quadros graves de saúde, além um enorme número de vítimas fatais. Passado esse curtíssimo prazo é importante adequar a infraestrutura para atender as doenças provocadas pela calamidade e começar a reconstrução da cidade. Aluguéis sociais, construções para os desabrigados, fomento para recuperação das empresas, apoio aos desabrigados e desempregados, mapeamento e ações para conter o crescimento demográfico nas áreas de risco e um sem número de ações necessárias para minimizar o impacto da crise. Nas empresas não deve ser diferente, contudo, grande parte delas só consegue enxergar o curto prazo esquecendo-se do logo adiante. A receita antiga que não mais faz sentido: metas crescentes para sanar o agora, muitas vezes em detrimento ao amanhã. Uma ferramenta simples e bastante útil é o Balanced ScoreCard, ela pode ser utilizada nos vendavais das crises e nas calmarias dos momentos de crescimentos.

Lição 4 – É preciso usar, com maestria, os dois hemisférios do cérebro: Se por um lado o planejamento necessita um esforço maior do hemisfério esquerdo (a razão), sem o uso do hemisfério direito (a emoção) não seria possível resgatar tantas pessoas. Contudo, o planejamento deve ser feito tendo como base a solução do problema e da valorização do humano e, portanto, dos aspectos emocionais. Por outro lado, os resgates devem ser feitos considerando as ações seguras e, portanto, utilizando-se a razão. Nas empresas não pode ser diferente: coração e mente devem andar de mãos dadas.

Lição 5 – Criatividade e inovação são palavras desse século: Em uma catástrofe que foi considerada como uma das 10 maiores da humanidade, soluções antigas, na maioria das vezes, não servem mais. Foi preciso ousar para unificar tanta diversidade. Nem sempre as soluções usadas no Haiti foram apropriadas para o nosso caso. É preciso inovar...é preciso ser criativo. Gosto muito do conceito budista da impermanência (nada é permanente, tudo se transforma) e creio que ele cai como uma luva nos tempos atuais. Empresas atuais que adotarem soluções antigas para resolver novos problemas estão fadadas ao insucesso. A criatividade e a inovação nos permitem navegar com segurança o mar revolto da impermanência da atualidade.

Muitas outras lições poderiam ser descritas e associadas às empresas, porém gostaria de finalizar com o seguinte pensamento:
As finanças são importantes;
Os materiais e as informações, também;
Contudo, são as pessoas que fazem a diferença.